Acabo de ler, com muito atraso, “1808”, de Laurentino Gomes. A essa altura, o livro já se consagrou como um bestseller inquestionável: figurou durante 104 semanas consecutivas na lista de mais vendidos da revista Veja e, segundo a Editora Planeta, já conta com “mais de 3 milhões de leitores” em todo o país (não me pergunte como chegaram a esse número). Além disso, a obra também arrebatou os prêmios Jabuti e Livro do Ano.
Não há como negar que “1808” tenha seus méritos. Consta que o livro consumiu 10 anos de pesquisas, cujo resultado é visível: em suas páginas transbordam dados, curiosidades e referências. Além de narrar a vinda da família real portuguesa para o Brasil, Gomes também joga luz sobre fatos e aspectos que costumam ser ignorados por outras obras do gênero, como o que aconteceu com Portugal durante o período em que D. João VI permaneceu na colônia e o que aconteceu ao monarca depois que voltou para a metrópole.
Mas provavelmente o grande mérito do livro seja também o seu maior defeito: “1808” é um impressionante compêndio de informações, e só. Nada de revelações bombásticas: D. João realmente carregava franguinhos em seus bolsos; Carlota Joaquina realmente tirou a poeira dos sapatos quanto partiu do Brasil. Nada de teses inovadoras: Gomes se limita a relatar os dados que compilou, de forma saborosa, vá lá, mas sem lançar um olhar diferente à historiografia já estabelecida.
Não deixa de ser irônico, portanto, que a grande revelação do livro seja relacionada à vida particular do arquivista real Luis Joaquim dos Santos Marrocos, figura menor sobre a qual Gomes dedica mais páginas do que necessário e cuja vida é usada para se traçar um paralelo artificial com a trajetória do próprio país.
Dessa maneira, “1808” se enquadra em uma linha editorial já explorada e consagrada pelo também jornalista Eduardo Bueno: a do livro de história que não questiona e não incomoda, mas instrui e diverte. Talvez isso explique sua enorme popularidade (além, é claro, do imenso hype feito pelas revistas da Abril). Nada de linguagem acadêmica ou do estilo exuberante de um Sérgio Buarque de Holanda: “1808” é fácil e gostoso de ler. Seus capítulos são curtos e sua temática, acessível.
Fica então a pergunta: “1808” é um bom livro? A resposta depende da sua expectativa como leitor. Se você espera um olhar original sobre um dos grandes momentos da nossa história, provavelmente irá se decepcionar. Mas, se a intenção é apenas passar algumas horas com uma leitura prazerosa, fruto de um grande trabalho de pesquisa, então a obra de Laurentino Gomes é um prato cheio.
Não há como negar que “1808” tenha seus méritos. Consta que o livro consumiu 10 anos de pesquisas, cujo resultado é visível: em suas páginas transbordam dados, curiosidades e referências. Além de narrar a vinda da família real portuguesa para o Brasil, Gomes também joga luz sobre fatos e aspectos que costumam ser ignorados por outras obras do gênero, como o que aconteceu com Portugal durante o período em que D. João VI permaneceu na colônia e o que aconteceu ao monarca depois que voltou para a metrópole.
Mas provavelmente o grande mérito do livro seja também o seu maior defeito: “1808” é um impressionante compêndio de informações, e só. Nada de revelações bombásticas: D. João realmente carregava franguinhos em seus bolsos; Carlota Joaquina realmente tirou a poeira dos sapatos quanto partiu do Brasil. Nada de teses inovadoras: Gomes se limita a relatar os dados que compilou, de forma saborosa, vá lá, mas sem lançar um olhar diferente à historiografia já estabelecida.
Não deixa de ser irônico, portanto, que a grande revelação do livro seja relacionada à vida particular do arquivista real Luis Joaquim dos Santos Marrocos, figura menor sobre a qual Gomes dedica mais páginas do que necessário e cuja vida é usada para se traçar um paralelo artificial com a trajetória do próprio país.
Dessa maneira, “1808” se enquadra em uma linha editorial já explorada e consagrada pelo também jornalista Eduardo Bueno: a do livro de história que não questiona e não incomoda, mas instrui e diverte. Talvez isso explique sua enorme popularidade (além, é claro, do imenso hype feito pelas revistas da Abril). Nada de linguagem acadêmica ou do estilo exuberante de um Sérgio Buarque de Holanda: “1808” é fácil e gostoso de ler. Seus capítulos são curtos e sua temática, acessível.
Fica então a pergunta: “1808” é um bom livro? A resposta depende da sua expectativa como leitor. Se você espera um olhar original sobre um dos grandes momentos da nossa história, provavelmente irá se decepcionar. Mas, se a intenção é apenas passar algumas horas com uma leitura prazerosa, fruto de um grande trabalho de pesquisa, então a obra de Laurentino Gomes é um prato cheio.
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