quinta-feira, 15 de outubro de 2009

9 - A salvação



É possível dizer que o segredo de um bom filme de aventura geralmente não está nas explosões, na edição dinâmica ou nas seqüências de luta bem coreografadas, mas sim na habilidade do protagonista em despertar a empatia do público. Uma vez cumprido esse item, um diretor talentoso consegue transformar até mesmo uma agulha enferrujada em uma ameaça capaz de deixar a platéia em polvorosa.

A falta dessa identificação entre o espectador e herói de “9 – A salvação” é provavelmente o único (e grande defeito) desse longa de animação dirigido e roteirizado pelo estreante Shane Acker. A história tem início quando 9, uma espécie de bonequinho vudu high tech, acorda em um prédio em ruínas, cercado por uma paisagem pós-apocalíptica. Aos poucos, ele encontrará uma pecinha eletrônica que não sabe bem para o que serve e se verá envolvido em uma missão que não sabe bem do que se trata, ao lado de outros bonecos semelhantes que não sabe bem quem são. Ao invés de instigar, todo esse mistério acaba por manter o público em uma postura quase indiferente, mesmo quando algum monstro aterrador surge em cena ou quando algum dos personagens principais morre.

Nada contra filmes em que a história é um quebra-cabeça que precisa ser montado aos poucos. “Amnésia” e “Oldboy” estão aí para mostrar que a fórmula funciona. Mas, nesses casos, o processo de construção do passado é a própria história. Em “9 – A salvação”, a relação entre os personagens carece de uma contextualização e, assim, perde sua força, prejudicando a narrativa. Por que 9 se importa tanto com 2, se ambos mal se conheceram? Por que 9 parte rumo à fábrica se mal sabe o que existe lá? Ao final, algumas respostar irão surgir e a história irá se fechar, mas aí já é tarde demais para que a platéia se importe.

Essa falha se torna ainda mais lamentável à medida que todos os outros aspectos do filme se revelam irretocáveis. O apuro técnico da direção de arte, incluindo o visual aterrador dos vilões, é acachapante. A edição de som revela um cuidado com os mínimos detalhes (perceba o ruído que o zíper da barriga de 9 faz ao balançar enquanto o personagem caminha). As texturas, a fotografia (posso falar em fotografia em uma animação?), tudo é impecável. E, mesmo assim, o filme não arrebata.

O resultado é um longa estranho, que não encontra seu público: é sinistro demais para levar as crianças, e sua história tem demasiadas lacunas para chegar a satisfazer os adultos. Mas o que mais incomoda é a sensação, ao sair do cinema, de que, apesar de tudo, estamos ávidos por voltar àquele universo, saber mais sobre sua mitologia e seus personagens. Mais uma prova de que todo filme brilhante, independente de seu gênero, tem por início um bom roteiro.

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“9 – A Salvação” é uma espécie de “spin off” de “9”, curta de animação que concorreu ao Oscar de 2006 em sua categoria. Também dirigido por Shane Acker, o filme é tão sinistro quanto seu sucessor. Confira abaixo.



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Se gostar de “9 – A salvação”, procure também: “Coraline” e “O estranho mundo de Jack”, ambos dirigidos por Henry Selick.

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Título: 9 – A salvação
Diretor: Shane Acker
Gênero: Animação
79 minutos

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