Está curiosa a choradeia da BM&FBovespa contra a taxação do capital externo que entra no país. A Bovespa é uma empresa privada, com ações negociadas em bolsa e que lucra com as taxas pagas em cada operação. Quando o governo anunciou que cobraria IOF do capital externo, seus papéis perderam valor porque os investidores temiam que ela perderia alguns clientes e, claro, faturamento. Nos últimos três dias a Bovespa vem argumentando que o mercado de capitais deu um passo atrás, mas ela não é grande fonte para discutir o assunto. Igualar o interesse público com o da companhia (e não discute-se aqui a importância de uma bolsa organizada, o que é bom para o país) é um pouco superficial.
Na briga entraram também outras empresas que dizem que irão perder com o custo mais alto de operações com capital externo, em especial a emissão de títulos. Até exportadores reclamaram, pois sabe-se que a medida pouco mexe com a cotação do dólar.
Mesmo com toda a crítica, a medida de cobrar imposto desses investimentos tem lá seu sentido. O governo aproveitou uma chance única: arrecadar mais com um imposto que pouco pune a produção, com a vantagem de segurar um pouco o inchaço nos mercados financeiros. O Brasil vem recebendo uma enxurrada de dólares captados a custo zero, ou menos de zero, e que rendem bem com a arbitragem entre os juros brasileiros e os pagos no exterior - ou com o rendimento mais robusto de sua bolsa. Mexer com capital externo ficou mais caro, fazer o quê?
Mudar o foco da reclamação. É hora de cobrar do governo o que ele vai fazer com a arrecadação extra. Fala-se em algo como R$ 10 bilhões a mais por ano, que não deveriam ir para o custeio da máquina estatal. Mas vão. Se a ideia é mesmo fazer uma política contracíclica, que evite bolhas e reaja a recessões, o dinheiro deveria ser usado para reduzir a dívida pública e criar uma "gordura" que poderá ser queimada na próxima recessão (que, acreditem, pode não estar tão longe). Em uma nova crise, o governo poderia ter margem para reduzir o imposto e atrair capital (se necessário) ou aumentar a dívida para estimular a economia de alguma outra forma.
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