Pense na sua banda de rock favorita. Aquela que lota a memória do seu computador com dezenas de arquivos mp3 e que gravou aquele CD que nunca sai do toca-discos do seu carro. Uma banda que possui um sucesso com um refrão tão poderoso que faria você viajar algumas centenas de quilômetros apenas para cantá-lo junto com o vocalista, se arrepiando até o último fio de cabelo. Agora pense na maneira como essa banda se veste, nas roupas e acessórios que seus integrantes usam, e tente encaixar seu estilo dentro de algum movimento ou tendência da moda. Achou difícil? Provavelmente não.
Essa facilidade só ocorre porque, desde o final da Segunda Guerra e do nascimento do rock, a moda e a música costumam andar juntas, influenciando-se mutuamente. Mais do que meras manifestações culturais, ambas são um reflexo do que se passa na mentalidade da sociedade à qual são contemporâneas, revelando seus desejos, sonhos e ideologias. Esse processo se dá de diversas formas. Por vezes, uma banda lança moda, uniformizando o visual dos seus fãs nos quatro cantos do mundo. Por outras, a moda lança uma banda, que acaba agindo como porta-voz de um movimento social já existente. Por fim, há casos em que a moda e o rock se encontram tão intrinsecamente ligados que é impossível definir quem deu origem a quem.
Entretanto, da mesma forma como é difícil estabelecer quando foi o exato nascimento do rock, é bastante complicado precisar em que momento teve início essa relação tão íntima entre moda e música. Uma das possíveis respostas, e talvez a mais provável, é um tanto inusitada: o primeiro visual roqueiro a influenciar o imaginário da moda teria vindo do... cinema.
Rockers, existencialistas e Beatles
Entender é mais simples do que parece. Durante os anos 50, começou a surgir entre os jovens uma sensação de poder e rebeldia que os colocava em confronto direto com seus pais. Essa nova geração, que questionava ferozmente os valores burgueses da sociedade, encontrou em ídolos como James Dean e Marlon Brando um modelo a ser seguido, uma vez que esses dois atores encarnavam o estereótipo de eterna juventude e representavam uma fuga da vida medíocre e voltada ao trabalho que então imperava. Tendo essas referências em mente, por todos os lados começaram a pipocar adolescentes vestindo camisetas e jeans gastos, jaquetas de couro preto e cabelo com brilhantina, tal qual os ícones hollywoodianos. Esses mesmos jovens também viram na rebeldia do rock um instrumento para canalizar seus anseios, o que acabou por levar o visual rebelde também para o meio musical.
Mas os “rockers”, como eram chamados, não estavam sozinhos. Convivendo não muito pacificamente com eles havia os “existencialistas”. Fãs de Sartre, Beauvoir e Camus, os grupos de existencialistas eram compostos basicamente por artistas e estudantes universitários que demonstravam sua oposição ao sistema de uma forma um pouco mais intelectualizada. Também eram adeptos das jaquetas de couro, ainda que estas fossem mais curtas que as de seus rivais roqueiros. Gostavam de usar roupas escuras, calças justas e suéteres com gola olímpica. Seguiam a moda francesa de pentear o cabelo para frente e se esforçavam em transmitir um imperturbável ar blasé.
Marlon Brando: "Então não brinco mais."
Foi numa tentativa de conciliar a moda de rockers e existencialistas, agradando aos dois públicos, que surgiu o famoso visual dos Beatles. O corte de cabelo, considerado escandaloso para a época, foi uma mistura do corte francês adotado pelos existencialistas com o corte rocker, mais volumoso na parte de trás. Os ternos sem lapela, desenhados pelo então “alfaiate dos astros” Dougie Millings, foram inspirados em paletós curtos estilo mod que os quatro rapazes de Liverpool haviam visto no bairro de Montmartre, durante uma viagem à capital francesa. Já as “botas Beatle”, com salto de altura média, eram compradas em uma loja de artigos para dança e teatro em Londres.
"Esta é a última vez que eu explico, Ringo: quando a música acaba, só um pode sentar na cadeira."
A música e a moda dos Beatles explodiram rapidamente, influenciando de forma definitiva o som e o visual de inúmeros grupos. Da noite para o dia, a impressão que se tinha era que o mundo inteiro se vestia como John, Paul, George e Ringo. Liverpool obviamente se tornou pequena para a banda, e a coisas tomaram uma proporção tão absurda que só havia um caminho a seguir. Esse caminho levava a Londres.
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