quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Distrito 9


A essa altura, você já deve estar careca de ouvir falar sobre “Distrito 9”, o filme-sensação da temporada. Sabe que a história gira em torno de um grupo de ETs refugiados em Johannesburgo, sabe que se trata de uma metáfora do apartheid e sabe que o longa foi produzido por Peter Jackson, o diretor de “Senhor dos Anéis”.

O longa gerou um certo burburinho na imprensa especializada, não só por sua criativa campanha de marketing (cartazes foram espalhados pelos EUA com a imagem de um ET acompanhada por um número de disque-denúncia) ou por seu faturamento de US$ 163 milhões ao redor do mundo (custou “apenas” US$ 30 milhões), mas por, supostamente, trazer um ar de renovação aos filmes de ficção-científica.

Infelizmente, ao final de seus 112 minutos, chega-se facilmente à conclusão de que o filme tem pouco de inovador. O começo até promete: os personagens e a trama básica são apresentados na forma de um documentário, com todas as características típicas do gênero: câmera tremida, depoimentos contraditórios, imagens desfocadas. Os efeitos especiais são fantásticos, principalmente quando se leva em consideração o orçamento "modesto" da produção. As analogias com a realidade dos negros na África do Sul (e com qualquer outro povo que sofra com alguma forma de repressão e discriminação) durante o infame regime segregacionista são criativas e pertinentes. O elemento gore é usado de forma interessante: em um filme sobre genocídio, é muito mais tolerável assistir a alienígenas explodindo do que humanos. Dessa forma, o longa consegue a façanha de manter o foco sobre suas questões principais sem se tornar uma experiência apelativa e, ao mesmo tempo, sem perder a força de sua temática, pois não é obrigado a fazer concessões para se tornar mais palatável.

O grande problema de “Distrito 9” é que as críticas sociais rapidamente dão lugar a uma trama banal de ação, com todos os defeitos do gênero: muito barulho, tiros e explosões inconseqüentes por todo lado. O que antes era uma mistura de “Cidade de Deus” com “Guerra dos Mundos” acaba virando uma espécie de “Transformers” na favela. O filme entra então em um terreno delicado: ao usar a temática da intolerância para construir um blockbuster, “Distrito 9” se aproxima exatamente do processo de espetacularização da tragédia que pretendia criticar.

Mas, enfim, talvez a maior prova de que “Distrito 9” não passa de mais do mesmo seja esta: o filme termina em aberto, e uma continuação já está sendo discutida. Acaba de nascer mais uma franquia. Sinal de que, por mais que humanos sejam substituídos por alienígenas, a história continua sempre a mesma.

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“Distrito 9” é uma adaptação do curta “Alive in Joburg”, também dirigido por Neill Blomkamp, e que você pode conferir abaixo:





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Título: Distrito 9
Diretor: Neill Blomkamp
Gênero: Ação
112 minutos

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