domingo, 22 de novembro de 2009

O Rock e a Moda - Parte 3

A geração sem futuro e o futuro de Vivienne
Em meados dos anos 70, a Inglaterra passava por uma intensa crise econômica. A taxa de desemprego era alta e a tensão entre as classes aumentava progressivamente. Os jovens não viam perspectiva: por onde quer que andassem, enxergavam apenas desolação e falta de esperança. Não havia o que fazer e muito menos lugar aonde ir. Dentro desse cenário, uma pequena butique no final da King’s Road (sempre ela!), em Londres, acabou servindo como ponto de encontro para essa juventude sem futuro.

Batizada de Sex, a loja pertencia a um jovem casal de estilistas, Malcolm McLaren e Vivienne Westwood, e vendia diversos artigos feitos de couro, metal e vinil, com claras inspirações sadomasoquistas. Dessa forma, Vivienne acabou se tornando a responsável por dar uma identidade visual a esses jovens e conferir ao movimento uma contextualização intelectual, o que lhe valeu o título de “rainha dos punks”. Para a alegria de sua clientela, sua criatividade não tinha limites: o que importava era descobrir até que ponto poderiam ir suas provocações, que envolviam, entre outras coisas, camisetas com mensagens ofensivas, peças repletas de detalhes metálicos, jaquetas surradas e calças rasgadas, além dos famigerados penteados moicanos coloridos. Graças à sua ousadia e capacidade de inovação, Vivienne ganharia renome e consagração internacionais, tornando-se uma das estilistas mais importantes da sua época.

Mas o legado de Vivienne não seria a única contribuição da Sex para a história do punk. Foi entre aquelas quatro paredes que nasceria também a banda-ícone do movimento: os Sex Pistols. Empresariados por McLaren, seus integrantes eram compostos por clientes e funcionários da loja. As canções dos Pistols eram bastantes simples e seguiam o modelo adotado por todas as bandas do movimento: músicas de no máximo três minutos, raramente com mais de três acordes. No punk, não era necessário saber tocar nenhum instrumento direito: o que importava era a atitude. Muito do espírito do punk pode ser perfeitamente resumido na postura do vocalista Johnny Rotten ao entrar para a banda. Quando perguntado pelos outros membros se sabia cantar, respondeu, sem pestanejar: “Não. Mas eu sei gritar.”

Os Sex Pistols: punk de butique.

A atitude do “faça você mesmo” levou milhares de jovens do mundo inteiro a montarem suas bandas e passarem a enxergar a música como uma possibilidade de futuro. O ideal e o visual punks se espalharam rapidamente, ainda que nos Estados Unidos, um país mais rico e menos ligado à moda, eles tenham ficados de certa forma retidos ao cenário underground. A cor preta, símbolo do movimento, marcaria também diversos outros estilos, como o gótico e o minimalismo japonês, e sua praticidade e sobriedade fariam dela uma mais fortes identidades da moda dos anos 80.

Mas nem tudo era revolta e desolação. Ao mesmo tempo em que os punks espalhavam lemas como “No Future” e “Fuck Off” pelos muros londrinos, havia gente que estava apenas a fim de se divertir. Era a febre disco, que trouxe às pistas um visual colorido, prático e repleto de brilho. O disco se tornou um imenso fenômeno musical e ajudou a trazer mais descontração e irreverência não só para a moda feminina, mas também para a masculina. A onda das discotecas, retratada em filmes como “Os Embalos de Sábado à Noite”, seria a última grande tendência a surgir nos anos 70. Mas uma nova década se aproximava, e a própria idéia do valor da moda como expressão da personalidade estava prestes a mudar.

Anos 80: o individualismo pós-moderno
Desde a metade do século, definida por convenção como início do pós-modernismo, algumas tendências começaram a se verificar nas ciências, artes e na própria sociedade. Entre elas, estavam a releitura do passado e a inclinação ao individualismo. Essas propensões foram se intensificando aos poucos e, ao menos no que diz respeito à moda, encontraram seu auge nos anos 80.

Foi nesse período que, mais do que nunca, o modo de se vestir se tornou um símbolo de pertencimento a um grupo. Ao mesmo tempo, as pessoas perceberam que era possível dar um toque pessoal e único às suas roupas, sem ter que abdicar das características gerais dos estilos nos quais se enquadravam. Dentro desse processo, aos poucos foi se percebendo que era possível encontrar inspiração no passado, misturando e reinventando características de diversos movimentos para criar um visual totalmente novo. É o caso de diversos artistas–símbolo dos anos 80, como Prince, Boy George e Madonna.

Vinte anos depois, ela encontrou Jesus.

Tomemos Madonna como exemplo, por ser ela capaz de personificar ambas as tendências. Com a rainha do pop, sai de palco a coletividade das bandas e entra o individualismo da mulher-espetáculo: Madonna é o show, e isso basta. Cai fora o visual único que permitia reconhecer uma banda a milhas de distância, e entra em cena o pastiche da mulher-camaleão: Madonna é punk, é material girl, é a reencarnação de Marilyn Monroe. Sua imagem de mulher forte, ousada e ambiciosa inspirou adolescentes do mundo inteiro, que enxergariam na cantora americana um modelo a ser seguido e passariam a comprar seus álbuns milionários e a lotar seus shows, concebidos no formato de superproduções, por muitos anos.



Continua...

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