Curioso como o conceito de sucesso no mundo esportivo se altera profundamente quando comparado com o dito "mundo real", principalmente para os brasileiros. O caso do piloto Rubens Barrichello é exemplar.
Há nada menos do que 17 anos, Rubinho integra o seletíssimo grupo de pilotos da Fórmula 1, considerada a elite do automobilismo mundial. É o recordista de grandes prêmios disputados na categoria, tendo participado de 288 provas, sendo que venceu onze delas e pontuou em outras 196. Foi duas vezes vice-campeão do mundo e é o quarto piloto que mais subiu ao pódio na F-1, terminando entre os três primeiros em 68 corridas. Para 2010, já tem contrato assinado com a Willians, uma das equipes que, mesmo passando por um momento de instabilidade, segue como uma das mais tradicionais da F-1. Mesmo assim, é provavelmente o esportista brasileiro mais achincalhado da história.
De fato, Rubinho parece sofrer com uma sina ou um péssimo azar que fazem com que certas coisas só aconteçam com ele. Mesmo assim, seus resultados são significativos, longe de serem desprezíveis. Mas o que chama mesmo a atenção é que até o salário do piloto, inatingível para 99,9% dos brasileiros, vira motivo de piada.
Em matéria recente para a TV Lance, que o leitor pode acompanhar clicando aqui, o comentarista satiriza o fato de Rubinho ter "apenas" o 16º maior salário da F-1. Isso mesmo informando que por "apenas", entenda-se U$ 1 milhão ao ano (ou cerca de R$ 1,7 milhão). Se essa foi a média dos salários de Rubinho durante sua carreira na F-1, é só multiplicar por 17 para saber que o piloto, aos 37 anos, já acumulou uma fortuna de mais de R$ 20 milhões. Isso só de salário, aquele que sua equipe lhe paga todo mês – sem contar as premiações por pódios ou corridas vencidas e o faturamento com cotas de patrocínio. Nada mal...
Agora imagine que Rubinho, ao invés de piloto, fosse um executivo brasileiro que trabalhasse em uma multinacional de automóveis e que, durante sua carreira, chegasse à vice-presidência mundial dessa empresa. Independente do salário que recebesse, seria difícil encontrar alguém que não o considerasse um executivo de sucesso e, principalmente, uma pessoa bem sucedida.
Aí é que, ao menos para os brasileiros, existe a ruptura entre o conceito de sucesso no mundo esportivo e na “vida real”. Nos esportes, mesmo aqueles de alto rendimento, com alto grau de competitividade, quase nada além do primeiro lugar é admissível. O segundo colocado é apenas o primeiro dos últimos. O que interessa é vencer. Caso contrário, restam a descrença as piadas, relegando o ser humano a último plano.
E é isso que vem atormentando Rubinho em boa parte de seus 17 anos na F-1. Tamanha aporrinhação acabou irritando o piloto, que ao menos aparentemente, sempre lidou bem com as brincadeiras. No domingo passado, após a última prova da temporada 2009, em que terminou na quarta colocação, o piloto foi à forra no Twitter, onde tem mais de 280 mil seguidores. “Na vida temos que encarar as dificuldades com otimismo. Trabalhar duro com sorriso na cara esperando sempre pelo melhor... Pra vc que não tem o que fazer e quer tirar um sarro do resultado de hj dê uma olhadinha na sua vida e veja se é feliz como eu sou”, disparou.
Para bom entendedor, dois simples tweets bastam...
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